sexta-feira, 25 de maio de 2007

José Maria Cançado

José Maria Cançado é ainda mais conhecido como crítico literário e ensaísta, publicado há mais de três décadas nos principais jornais e revistas do país. Nos anos 80 editou o saudoso Leia Livros, em sua fase literária mais brilhante. É autor de três livros preciosos que visitam parte de sua condição humana desde sempre literatizada: Marcel Proust – As Intermitências do Coração, Sapatos de Orfeu (única biografia de Carlos Drummond de Andrade publicada até
agora) e Memórias Videntes do Brasil, sobre a obra de Pedro Nava.


José Maria Cançado foi submetido em setembro de 2004 a um transplante de coração. No hospital, após a cirurgia, sua mente inquieta ainda encontrou inspiração para escrever O Transplante É um Baião de Dois, um livro de poesia. Cançado morreu de problemas cardíacos, em Belo Horizonte, aos 54 anos. :-(

Mas para nossa sorte e de nossos filhos e netos, ele nos deixou um legado maravilhoso de palavras costuradas cuidadosamente. Como está poesia que segue aí.



? Que vêm fazer aqui

os lilases de abril de tom eliot
nos poros da estática estouradaça
da caixa de som do rap e do xote?

? esse mantra do abril anglicano
na sirene ligada da língua saturno e onano
do rapper e seu programa de paupéria e glória
do terceiro-urbano?

Personas e máscaras dos poetas
do mundo inteiro, uni-vos
e no mesmo passo desuni-vos
no despaisado da vossa condição e lilases:

Tal qual a zona liberada,
num palco da periferia do Brasil,
como a composição de um novo terno
e de um vasto mundo conato,
por tom eliot, seu pelo lilás pentecostal,
e o sujeito marrento no palco,

se a realidade não escreve
nem jamais escreveu,
ela ensaia uma ficção suprema,
entrar e sair do seu lugar nos livros,
e realizar-se no destino emancipado do poema.


3 comentários:

Anônimo disse...

Ô nego véio, grande irmão Pai Tomás,
visito diariamente a Cabana e sempre me deparo com pérolas e novidades da melhor qualidade.
Mas agora você me fez chorar de saudade. Chorar mesmo! Nem acreditei quando vi! Além de ser meu tio, Zé Maria Cançado foi o cara mais extraordinário que já conheci.
Foi meu tio, amigo, pai, irmão, filho, cumpadre de noites e dias, e, acima de tudo, meu ídolo.
Valeu pela homenagem!
Viva Tio Zé!

paitomas disse...

VIVA !!! Vive!!! Através das palavras e todas as coisas que vcs contam, "Tio Zé" VIVE!!!!

Infelizmente não tive o prazer de conhecer o "Zé". Mas, FELIZMENTE, ele nos deixou essa herança cultural que está aí.. e que o deixa muito vivo entre todos que se propõe a adentrar em sua literatura, que é de primeiríssima categoria tb!

Salve salve a boa música, a boa literatura, os bons amigos e as maravilhosas lembranças!!!

Anônimo disse...

Grande Tô, fico enaltecido e emocionado com sua homenagem ao nosso Zé (ele era, é, e será do público, do povo, das massas..."Nascer é lajedo, renascer é multidão").O artigo que você escolheu ficou no ponto! Te agradeço de coração, por divulgar esse "coração com suas duas mãos e todo sentimento do mundo" que nos deixou! Podemos, claro, continuar a publicar textos inéditos dele aqui no blog. Um grande abraço, do seu amigo e do saudoso filho, para você,meu caro, nessa Paulicéia Desvairada de Mário. Continuaremos conversando...