sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Lucas Santtana e Seleção Natural - 3 sessions in a greenhouse


O título do disco é auto-explicativo: “3 sessions in a greenhouse” foi gravado em apenas três sessões, ao vivo. A idéia era capturar o clima dos shows, com qualidade de estúdio. O greenhouse, bom, você pode imaginar.

Para isso, Lucas Santtana e Seleção Natural ocuparam uma grande sala no estúdio AR, no Rio, e gravaram na reta, como se fala no meio musical. Todos tocando juntos, como num show. Vale a melhor tomada coletiva. Sem regravação, sem overdubs, sem retoques.

A linha de baixo acachapante e a metaleira matadora da instrumental “Awô dub”, que abre o disco, entrega de cara o elemento unificador do disco: o dub. Lucas Santtana é admirador da vertente alucinada do reggae há muito tempo.

Não por acaso, mantém, junto com o inglês David Cole, um sound system nos moldes jamaicanos. O Sensorial Sistema de Som costuma se apresentar nas praias do Rio, com David nos toca-discos e Lucas no MP3.

Isso não significa que Lucas Santtana tenha fugido do seu estilo próprio e que “3 sessions in a greenhouse” tenha uma pegada reggae – não mesmo. O dub aqui é utilizado como ferramenta, não como um estilo. É um modo de produção.

Em todas as faixas o baixo e a bateria estão na frente, os efeitos desnorteiam e te mandam para lugares distantes. No entanto, a idéia não é simplesmente emular os mestres do dub dos anos 70, mas sim adaptar os experimentos jamaicanos à música atual, utilizando o estúdio como um instrumento, independente do gênero musical.

A inédita “Tijolo a tijolo, dinheiro a dinheiro” (que vinha aparecendo nos shows e agora, finalmente, gravada), segunda faixa do disco, ilustra bem isso. O cavaquinho ecoa, a voz reverbera, o baixo pulsa, mas só um louco categorizaria a música como reggae. Aliás, classificar “3 sessions in a greenhouse” de qualquer coisa é complicado. E essa é a graça do disco.

“Só baixo se for de graça”, diz Lucas na letra da mesma música. O comentário não é gratuito. Lançando o disco por seu próprio selo, o agora digital www.diginois.com.br, Lucas está ligado no cenário atual da indústria musical.

Pra começar, “3 sessions in a greenhouse” foi feito com dinheiro captado através de um edital cultural da Petrobrás feito inteiramente online, sem uma folha de papel impressa. Agora, pronto, todas as músicas poderão ser baixadas, gratuitamente, no site do selo.

Tanto as músicas da maneira que foram concebidas, como também as faixas abertas, estão ao alcance de quem se interessar. No dorso da capa lê-se: “Letras, faixas abertas, novas mixes. Participe da evolução desse trabalho”. O lance é coletivo.

A mixagem de Buguinha Dub (técnico de PA da Nação Zumbi, que também mixou metade de “E o método tudo de experiências”, do Cidadão Instigado), que produziu o disco junto com Lucas, é essencial, amarrando os muitos instrumentos e efeitos de maneira eficaz.

Durante a gravação, o ambiente estava tão solto que é possível ouvir os comentários e avaliações dos músicos entre uma faixa e outra. As três sessões foram registradas em vídeo por Luis Blanco e Pedro Amorim e devem ser reunidas em um DVD em breve.

Tom Zé participa da regravação samba dub da sua “Ogodô ano 2000” e Gilmar Bola 8 canta em “Pela orla dos velhos tempos”, da sua banda, Nação Zumbi, aqui em versão funk (com direito a sample do sample de “Feira de Acari”, do DJ Marlboro).

Inspirado na batida de “Colonial mentality”, de Fela Kuti, a afrobeat “A natureza espera”, feita com Wado, conta com as participações de Marcos Lobato (do Afrika Gumbe) tocando Rhodes, do ator João Miguel (do filme “Cinema, aspirinas e urubus”) e da jornalista americana Phylis Huber, lendo um trecho de “The waves”, de Virginia Woolf, descrevendo um pôr-do-sol pra lá de psicodélico. A balada “Into shade” é parceria com Arto Lindsay. Tá vendo que só tem fera né?

“Deixe o sol bater” (do primeiro disco, “Eletro Bem Dodô”) surge em versão afrobeat instrumental e os parênteses dizendo versão dub live de “Lycra-limão” (do segundo disco, “Parada de Lucas”) dispensa maiores explicações. Fechando o disco, “Faixa amarela”, clássico do repertório de Zeca Pagodinho, vai a Kingston e não volta mais.

“3 sessions in a greenhouse”, coincidentemente o terceiro disco da carreira de Lucas Santtana, evoca a tradição jamaicana dos riddims, em que uma canção está sempre viva e pronta para ser manipulada novamente. Regravações e inéditas se confundem no tempo e no espaço. Cabe a cada ouvinte escolher a sua viagem. Have a nice trip!!!

(baixar lucas santana - 3 sessions in a greenhouse)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Nublu Orchestra and Wax Poetic

Fui na Mostra de Arte do Sesc, em menos apresentações do que gostaria. Esse é dos males de se morar em Sampa. Sempre vamos em menos coisas que gostaríamos, a cidade oferece tanto que fica difícil acompanhar. Mas fui numa apresetação da Nublu Orchestra. E que apresentação!!!

Para quem não conhece, Nublu é um bar em Nova Iorque que virou uma noite musical e que virou um selo. O cara que faz a Nublu chama-se Ilhan Ersahin, sueco radicado em NY, um dos fundadores da lendária Atlatic Records: um empreendedor que ama a música.

A noite virou banda que virou projeto. E por onde passa convida músicos locais para fazerem parte da sonzêra. Com os integrantes do Brazilian Girls, Wax Poetic, Kudu, Forro in the Dark, I led Three Lives e Love Trio e convidados regulares, como Graham Haynes e Eddie Henderson temos a Nublu Orchestra, uma colagem de ritmos regidos por Butch Morris, maestro consagrado que já produziu Stevie Wonder e Sun Ra. Aqui no Brasil tivemos participações especiais: Otto, Nina Becker, Marcello Callado, Ricardo Dias e Catatu. Foi uma noite incrível!!!! Som experimental de altíssima qualidade. Segue um vídeo de uma session gravada nas gringas.


Agora está de passagem pelo Brasil o projeto Wax Poetic, é uma grande jam session, na qual músicos talentosos juntam a magia do jazz ao vivo com grooves da música eletrônica e o hip hop. Mais uma viagem musical de Ilhan Ersahin, que também é saxofonista e tecladista. Otto, Nina Becker e Thalma de Freitas são os convidados das vez.

Para ele, a idéia era colocar pop e rock junto com jazz freestyle e hip hop. Misturar culturas, como ele vê acontecer na cidade que sedia o projeto. Mas ele fez mais. O grupo ajudou a revelear a multipremiada Norah Jones que participou do grupo por dois anos.

Com um visão musical tão aberta não foi difícil para o baixista brasileiro Chico participar da turnê nacional do Wax Poetic. O repertório e das batidas eletrônicas mais rápidas até suaves melodias jazzísticas comandadas sempre pelo teclado de Ilhan Ersahin. Segue um álbum um pouco mais antigo com a Norah Jones ainda na formação.


quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Mostra Sesc de Artes

O Sesc São Paulo promove entre a próxima quarta-feira (8) e o dia 18 de outubro a edição 2008 da Mostra Sesc de Artes. A proposta do evento é deslocar a arte dos espaços habituais e apresentar trabalhos em diferentes escalas.

A programação conta com atrações nacionais e internacionais, estréias e apresentações inéditas no Brasil. São aproximadamente 80 projetos nas áreas de teatro, música, literatura, dança, artes visuais e artemídia.

Os encontros acontecem nas unidades do Sesc na capital e Grande São Paulo: Avenida Paulista, Belenzinho, Carmo, Cinesesc, Consolação, Interlagos, Ipiranga, Itaquera, Pinheiros, Pompéia, Santana, Santo Amaro, Santo André, São Caetano, Vila Mariana e 24 de Maio.

Meu destaque vai para:

BUGUINHA REMIXA AO VIVO (Recife, PE)
O produtor Christiano Botelho, o Buguinha, remixa ao vivo shows de nomes expressivos da música brasileira. A cada noite uma banda se apresenta e o show será gravado por Buguinha, que montará seu estúdio analógico no meio da platéia. Ao final do show, ele rebobinará a fita para remixá-la ao vivo, usando técnicas do dub jamaicano.

Dia 09/10 - Instituto
Dia 10/10 - Mundo Livre S/A
Dia 11/10 - Eddie

Mais informações sobre a programação do evento podem ser consultadas no site www.sescsp.org.br/mostra.