terça-feira, 16 de setembro de 2008

Momo

No ranger do seu assoalho, num rasgo de papel, no vento. Em cada lembrança resgatada ponto por ponto, naquela noite difícil de dormir, você vai escutar a voz de Marcelo Frota, o Momo.

Seu segundo álbum, Buscador, eleva a categoria do novo folk brasileiro a algo que vem além, nebuloso, como a memória. Apropria-se de sonoridades minimais francesas - tiradas de uma craviola e um sintetizador Casionete a pilha; incorpora uma poesia visceral - própria do Clube da Esquina, de Belchior e Fagner; e carrega um passo pesado, daqueles que até então só encontrávamos em cancioneiros antigos do sertão. Tudo isso embebedado como uma esponja, cheia de recordaçoes que vêm e escapam.

Uma descrição de Momo como é atualmente deveria conter todo o passado de Marcelo. Mas ele não conta seu passado, ele o contém como as linhas da mão, escrito em beiras de praias, nas grades das janelas, cantado baixinho e visceral, acompanhado por uivos da banda. Momo é um cantor cigano, e seu segredo está na forma pela qual o olhar percorre as figuras que já passaram por si, enquanto seu passo segue em frente, devagar, atrás dos sapatos. Um esfacelo sem forma definida e sem fim, a memória que sucede como uma partitura musical da qual não se pode (nem se deve) modificar ou deslocar nenhuma nota.

Que não o tenham como sofrimento puro. A poesia de Momo busca a felicidade essencial, que traz consigo a dor de se deixar algo para trás. Mas é, antes de tudo, a felicidade contida no que está por vir. "A esperança é a última que morre", ele canta logo na faixa de entrada, e o álbum aos pouquinhos vai ganhando um tom cada vez mais leve, mais alegre, até que se conclue numa canção instrumental, de dedilhados pueris.

Entre muralhas, torres e romances destinados a desmoronar, Momo fica como a filigrana de um desenho tão fino a ponto de evitar as mordidas dos cupins. "E o sol nascerá", cantemos. Temos uma grande promessa.

4 comentários:

Anônimo disse...

chato demais esse som!!!

Anônimo disse...

MoMo é lindemaaaais

Anônimo disse...

Eu entendo, MoMo não é pra todo mundo mesmo não...

paitomas disse...

Cada um, cada um... quem não gosta não ouve e quem gosta bate palma!!!